Ano da Fé 2012-2013



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Metas: 4ª semana

 

Parágrafo 3 - O TODO – PODEROSO

De todos os atributos divinos, só a omnipotência é nomeada no Símbolo, portanto confessá-la é de grande alcance para a nossa vida. Acreditamos que é universal porque Deus tudo criou, tudo governa e tudo pode; amorosa, porque Deus é nosso Pai; misteriosa, porque só a fé a pode descobrir, quando ela atua plenamente na fraqueza.

Faz tudo quanto Lhe apraz

As Sagradas Escrituras confessam o poder universal de Deus. Se Deus é omnipotente no céu e na terra é porque foi Ele quem os fez, portanto nada Lhe é impossível e Ele dispõe à vontade da sua obra; Ele é o Senhor do Universo, cuja ordem foi por Ele estabelecida e Lhe permanece inteiramente submissa e disponível. Ele é o Senhor da história, governa os corações e os acontecimentos segundo a sua vontade.

Porque podeis tudo, de todos vos compadeceis

Deus é o Pai todo-poderoso. Com efeito, Ele mostra a sua omnipotência paterna pelo modo como cuida das nossas necessidades, pela adoção filial que nos concede, pela sua infinita misericórdia, pois mostra o seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados. A omnipotência divina não é arbitrária: Em Deus, o poder e a essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça, são uma só e a mesma coisa, de modo que nada pode estar no poder divino que não possa estar na justa vontade de Deus ou na sua sábia inteligência São Tomás de Aquino

O mistério da aparente impotência de Deus

A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Deus Pai revelou a sua omnipotência do modo mais misterioso, na humilhação voluntária e na ressurreição de seu Filho, pelas quais venceu o mal. Só a fé pode aderir aos caminhos misteriosos da omnipotência de Deus. Esta fé gloria-se nas suas fraquezas para atrair a si poder de Cristo.

Parágrafo 4 – O Criador

“No princípio Deus criou o céu e a terra”. É com esta palavras que começa a Sagrada Escritura e o Símbolo da fé retoma-as confessando a Deus, Pai todo-poderoso, como “Criador do céu e da terra”. A criação é o fundamento de todos os desígnios salvíficos de Deus que culmina em Cristo.

I.              A catequese sobre a criação

A catequese sobre a criação diz respeito aos próprios fundamentos da vida humana e cristã porque torna explícita a resposta da fé cristã às questões: “De onde vimos?”, “Para onde vamos?”, “Qual a nossa origem?”, “Qual o nosso fim?”. A inteligência humana é capaz de encontrar uma resposta para a questão das origens. A existência de Deus Criador pode ser conhecida pelas suas obras, graças à luz da razão humana, mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja obscurecido e desfigurado pelo erro. Deste modo, a fé vem confirmar e esclarecer a razão na compreensão exata desta verdade.

A verdade da criação é tão importante para a vida humana que Deus, na sua bondade, quis revelar ao seu povo tudo quanto é salutar conhecer-se a esse propósito.  Para além do conhecimento natural, que todo o homem pode ter do Criador, Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da criação. Deus, que escolheu os patriarcas, que fez sair Israel do Egipto e que, escolhendo Israel, o criou e formou revela-Se como Aquele a quem pertencem todos os povos da terra e toda a terra, como sendo o único que «fez o céu e a terra».

Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da Aliança de Deus, o Deus Único, com o seu povo. A criação é revelada como o primeiro passo para esta Aliança, como o primeiro e universal testemunho do amor omnipotente de Deus. Por isso, a verdade da criação é expressa com vigor crescente na mensagem dos profetas, na oração dos salmos e da liturgia, na reflexão da sabedoria do Povo eleito.

Entre tudo quanto a Sagrada Escritura nos diz sobre a criação, os três primeiros capítulos do Génesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, estes textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no princípio da Escritura, de maneira a exprimirem as verdades da criação, da sua origem e do seu fim em Deus, da sua ordem e da sua bondade, da vocação do homem, e enfim, do drama do pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, estas palavras continuam a ser a fonte principal para a catequese dos mistérios do princípio: criação, queda, promessa da salvação.

II.             A criação – obra da Santíssima Trindade

“No princípio, Deus criou o céu e a terra”. Três coisas são afirmadas nestas primeiras palavras da Escritura: Deus eterno deu um princípio a tudo quanto existe fora d'Ele. Só Ele é criador e tudo quanto existe depende d' Aquele que lhe deu o ser. O Novo Testamento revela que Deus tudo criou por meio do Verbo eterno, seu Filho muito-amado. Tudo foi criado por seu intermédio e para Ele. Ele é anterior a todas as coisas, e todas se mantêm por Ele.

Insinuada no Antigo Testamento revelada na Nova Aliança, a ação criadora do Filho e do Espírito Santo, inseparavelmente unida à do Pai, é claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: “Existe um só Deus. Ele é o Pai, é Deus, é o Criador, o Autor, o Ordenador. Fez todas as coisas por Si mesmo, quer dizer, pelo Seu Verbo e pela sua Sabedoria”. A criação é obra comum da Santíssima Trindade.

III.           O mundo foi criado para glória de Deus

É uma verdade fundamental, que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e de celebrar: “O mundo foi criado para glória de Deus”. A glória de Deus está em que se realize esta manifestação e esta comunicação da sua bondade, em ordem às quais o mundo foi criado. Fazer de nós filhos adotivos por Jesus Cristo. Assim aprouve à sua vontade, para que fosse enaltecida a glória da sua graça.

IV.          O mistério da criação

Deus cria com sabedoria e por amor

Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria, mundo não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso. Acreditamos que ele procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade.

Deus cria do nada

Acreditamos que Deus não precisa de nada preexistente, nem de qualquer ajuda, para criar. A criação também não é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente “do nada”:

“Que haveria de extraordinário, se Deus tivesse tirado o mundo duma matéria preexistente? Um artista humano, quando se lhe dá um material, faz dele o que quer. O poder de Deus, porém, mostra-se precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer” São Teófilo de Antioquia

A fé na criação a partir «do nada» é testemunhada na Escritura como uma verdade cheia de promessa e de esperança. É assim que a mãe dos sete filhos os anima ao martírio:

“Não sei como aparecestes no meu seio; não fui eu que vos dei a respiração e a vida, nem fui eu que dispus os membros que compõem cada um de vós. Por isso, o Criador do mundo, que formou o homem à nascença e concebeu todas as coisas na sua origem, vos dará novamente, na sua misericórdia, a respiração e a vida, uma vez que vos desprezais agora a vós próprios, por amor às suas leis [...] Peço-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra. Vê todas as coisas que neles se encontram, para saberes que Deus não as fez do que já existia, e que o mesmo sucede com o género humano” (2 Mac 7, 22-23.28).

Uma vez que Deus pode criar «do nada», também pode, pelo Espírito Santo, dar a vida da alma aos pecadores, criando neles um coração puro e a vida do corpo aos defuntos, pela ressurreição. E como, pela sua palavra, pôde fazer que das trevas brilhasse a luz, pode também dar a luz da fé aos que a ignoram.

Deus cria um mundo ordenado e bom

Uma vez que Deus cria com sabedoria, a criação possui ordem. A nossa inteligência, participante da luz do intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação, sem dúvida com grande esforço e num espírito de humildade e de respeito perante o Criador e a sua obra. Saída da bondade divina, a criação partilha dessa, porque a criação é querida por Deus como um dom orientado para o homem, como herança que lhe é destinada e confiada

Deus transcende a criação e está presente nela

Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras. Mas, porque Ele é o Criador soberano e livre, causa primeira de tudo quanto existe, está presente no mais íntimo das suas criaturas. Segundo as palavras de Santo Agostinho, Ele é “superior summo meo et interior intimo meo — Deus está acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu tenho de mais íntimo”

Deus sustenta e conduz a criação

Depois da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança.

V.            Deus realiza o seu desígnio: a divina Providência

A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada “em estado de caminho” para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição:

É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. É assim que, muitas vezes, vemos o Espírito Santo, autor principal da Sagrada Escritura, atribuir a Deus certas ações, sem mencionar causas-segundas. Jesus reclama um abandono filial à Providência do Pai celeste, que cuida das mais pequenas necessidades dos seus filhos.

A Providência e as causas segundas

Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus omnipotente. É que Ele não só permite às suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas, de serem causa e princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na realização do seu desígnio.

Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua Providência, confiando-lhes a responsabilidade de submeter a terra e dominá-la. Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos. Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a ação das suas criaturas. É Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas causas-segundas.

A providência e o escândalo do mal

Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, porque é que o mal existe? A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal.

Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor. No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em estado de caminho” para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição.

Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha e amor preferencial. Podem, por conseguinte, desviar-se. De facto, pecaram. Foi assim que entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, nem direta nem indiretamente, causa do mal moral. No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:

“Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem” Santo Agostinho

Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, na sua omnipotente Providência, pode tirar um bem das consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas criaturas. Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem.

Assim, Santa Catarina de Sena diz aos que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim”

E São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom”

E Juliana de Norwich: “Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé [...] e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem [...]”

Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus face a face, é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.