Ano da Fé 2012-2013



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Capítulo Primeiro - O Homem é capaz de Deus

 

I.              O desejo de Deus

    O desejo de Deus é um sentimento que está inscrito no coração do Homem. Deus atrai-o até Si e só n’Ele o Homem encontra a paz por isso só  tem uma vida plena se viver livremente a sua relação com Deus. “Quando eu estiver todo em Ti, não mais haverá tristeza nem angústia; inteiramente repleta de Ti, a minha vida será vida plena” Santo Agostinho

    O Homem é um ser religioso Deus criou de um só homem todo o género humano, para habitar sobre a superfície da terra, e fixou períodos determinados e os limites da sua habitação, para que os homens procurassem a Deus e se esforçassem realmente por O atingir e encontrar. Na verdade, Ele não está longe de cada um de nós. É n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos (Act 17, 26-28)

    No entanto, a relação do Homem com Deus pode ser esquecida, desconhecida e até rejeitada (por ignorância, rebelião contra o mal, afã de riquezas, mau exemplo, atitude de medo, etc.) mas Deus nunca deixa de chamar todo o Homem a que O procure, de modo a encontrar a felicidade. Esta busca exige do Homem esforço da sua inteligência, retidão da sua vontade e o testemunho dos outros que o ensinam a procurar Deus.

II.            Os caminhos de acesso ao conhecimento de Deus

    Pode-se conhecer a existência de Deus por dois caminhos: o caminho sobrenatural e o caminho natural.

    Caminho natural - O Homem que procura Deus descobre certos caminhos de acesso ao conhecimento de Deus. Estes caminhos têm como ponto de partida a criação: o mundo material e a pessoa humana.

    O mundo: a partir do movimento, da ordem e da beleza do mundo pode-se chegar ao conhecimento de Deus como origem e fim do universo.

    O Homem: com sua abertura à verdade e à beleza, sentido do bem moral, liberdade, voz de consciência e com a ânsia de infinito e felicidade, o Homem interroga-se sobre a existência de Deus, detetando sinais da sua alma espiritual, logo a sua alma em Deus pode ter origem.

    O mundo e o Homem não têm, em si mesmos, nem o seu primeiro princípio nem o seu fim último, mas participam do ser em si. Assim, por estes caminhos, o Homem pode ter conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo – DEUS.

    As faculdades do Homem tornam-no capaz de conhecer a existência de um Deus. No entanto, para que haja intimidade, Deus quis revelar-se ao Homem e dar-lhe graça para receber com fé esta revelação. As provas da existência de Deus ajudam a perceber que a fé não se opõe à razão humana.

III.           O conhecimento de Deus segundo a Igreja

    O Homem chega ao conhecimento de Deus pela razão, através das coisas criadas. De outro modo não poderia acolher a revelação de Deus. O Homem tem muitas dificuldades em chegar ao conhecimento de Deus só com as luzes da razão, por isso foi esclarecido pela Revelação de Deus.

IV.          Como falar de Deus?

    É possível falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. No entanto, como o nosso conhecimento de Deus é limitado, a nossa linguagem também o é. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo o nosso modo humano limitado de conhecer e pensar.

O Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Como tal, as perfeições das criaturas (a verdade, a bondade, a beleza…) são reflexo da perfeição infinita de Deus. Daí podemos falar de Deus a partir da perfeição das suas criaturas.

Deus transcende toda a criatura, por isso as nossas palavras humanas ficam sempre aquém do mistério de Deus.

 

 

Capítulo Segundo  - Deus ao encontro do Homem

 

Artigo 1 A Revelação de Deus

I.              Deus revela o seu “desígnio benevolente”

    Pela razão natural o Homem pode conhecer a Deus mas há outra forma de conhecimento: a Revelação Divina. Por uma vontade livre, Deus revela-Se e dá-Se ao Homem, revelando o Seu mistério e o Seu desígnio, segundo o qual os homens, por meio de Cristo têm acesso ao Pai no Espírito Santo e assim se tornam participantes da natureza divina.

    Deus revela-Se a Si mesmo para dar a conhecer a Sua vontade, quer tornar os homens capazes de Lhe responderem, de O amarem e de O conhecerem.

II.            As etapas da Revelação

Desde a origem Deus dá-Se a conhecer

    Deus convida os homens a uma comunhão íntima consigo, revestindo-os de uma graça e justiça resplandecentes. Com a queda dos primeiros pais a Revelação não foi interrompida Deus depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação, e cuidou continuamente do género humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação.

A Aliança com Noé

    Depois de desfeita a unidade do género humano pelo pecado, Deus procurou salvar a humanidade intervindo com cada uma das suas partes. A aliança com Noé exprime o princípio da economia divina em relação às nações, ou seja, homens reagrupados por países e línguas, por famílias e nações.

    Esta ordem destinava-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída. A aliança com Noé permanece em vigor enquanto durar o tempo das nações, até à proclamação universal do Evangelho. 

Deus elege Abraão

    Para reunir a humanidade dispersa, Deus escolhe Abraão, chamando-o para deixar a sua terra, a sua família e a casa de seu pai para o fazer pai de um grande número de nações. O povo descendente de Abraão será chamado a preparar a reunião de todos os filhos de Deus na unidade da Igreja.

    Deus escolheu Abraão e concluiu uma aliança com ele e os seus descendentes. Fez deles seu povo e revelou-lhes a sua Lei por meio de Moisés. E preparou-o, pelos profetas, a acolher a salvação destinada a toda a humanidade.

Deus forma o Seu povo Israel

    Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão do Egipto e deu-lhe, por Moisés, a sua Lei, para que Israel O reconhecesse e O servisse como único Deus vivo e verdadeiro e na expectativa do Salvador prometido.

    Deus forma o Seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma aliança nova e eterna, destinada a todos os homens. Revelou-Se plenamente enviando o seu próprio Filho no qual estabeleceu uma aliança para sempre

 

III.           Jesus Cristo – “Mediador e plenitude de toda a Revelação”

    Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que, depois d’Ele, não haverá outra Revelação. Apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está totalmente explicitada e está reservado à fé cristã apreender gradualmente o seu alcance ao longo dos séculos.

 

Artigo 2 A Transmissão da Revelação Divina

    Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (I Tm 2,4)

I.              A Tradição Apostólica

    Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma, tendo cumprido e promulgado pessoalmente o Evangelho antes prometido pelos profetas, mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes assim os dons divinos

    Os Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, entregando-lhes o seu próprio ofício de magistério.

    A transmissão do Evangelho fez-se de duas maneiras: oralmente, pelos Apóstolos que, por inspiração do Espírito Santo, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo; por escrito, pelos apóstolos e varões apostólicos que, pelo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação

    Esta transmissão chama-se Tradição, distinta da Sagrada Escritura, embora estreitamente a ela ligada. Deste modo, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, pelo seu Verbo, no Espírito Santo, continua presente e ativa na Igreja

II.            A relação entre a Tradição e a Sagrada Escritura

    A Tradição e a Sagrada Escritura derivam da mesma fonte divina e uma e outra tornam presente na Igreja o mistério de Cristo.

    A Sagrada Escritura é a palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito divino enquanto que a Tradição conserva a palavra de Deus, confiada por Cristo e pelo Espírito Santo aos Apóstolos. É transmitida aos seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito Santo, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação. Daí que ambas devem ser recebidas e veneradas com espírito de piedade e reverência.

III.           A interpretação da herança da fé

    O depósito da fé (depositum fidei) contido na Tradição e na Sagrada Escritura foi confiado pelos Apóstolos ao conjunto da Igreja. O encargo de interpretar a Palavra de Deus foi confiado ao Magistério da Igreja, mais concretamente, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. Os fiéis devem, portanto, receber com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que os pastores lhes dão Quem vos escuta escuta-me a Mim Lc 10, 16

    O Magistério da Igreja faz pleno uso da autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, ou seja, quando propõe verdades contidas na Revelação divina. Os dogmas são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro.

    Todos os fiéis participam na compreensão e na transmissão da verdade revelada. Todos receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e conduz à verdade total. Graças ao Espírito Santo, a inteligência das realidades e das palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja através da contemplação, do estudo dos crentes, da pregação recebida, etc.

    Como tal, a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira ligados que nenhum pode subsistir sem os outros e, todos juntos, cada um do seu modo e sob a ação do Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.