Ano da Fé 2012-2013



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Metas: 2ª Semana

Artigo 3 A Sagrada Escritura

  1. Cristo – Palavra única da Escritura santa

Para Se revelar aos homens, Deus fala em palavras humanas. Através da Sagrada Escritura, Deus não diz mais do que uma só Palavra, o seu Verbo único. Por esta razão a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera o Corpo do Senhor. Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tomado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de Cristo. Toda a Escritura divina é um só livro e esse livro único é Cristo, porque toda a Escritura divina fala de Cristo e toda a Escritura divina se cumpre em Cristo (Hugo de São Vítor).

Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra o seu alimento e a sua força, pois não recebe apenas uma palavra humana, mas o que ela é na realidade: Palavra de Deus.

  1. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura

Deus é o autor da Sagrada Escritura. A Igreja considera como sagrados os livros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque foram escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor.

Os autores humanos foram inspirados por Deus para escrever os livros sagrados que ensinam a verdade, por isso se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que fosse consagrada nas sagradas Letras em ordem à nossa salvação.

No entanto, a fé cristã não é uma religião do Livro, ou seja, não é de uma palavra escrita e muda, mas sim do Verbo encarnado e vivo. Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das Escrituras.

  1. O Espírito Santo, intérprete da Escritura

Na Sagrada Escritura, Deus fala aos homens em linguagem humana, portanto para a saber interpretar, é necessário prestar atenção ao que os autores realmente querem dizer sendo necessário ter em conta as condições do seu tempo e da sua cultura.

Deste modo a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito que foi escrita. O II Concílio do Vaticano indica três critérios para uma boa interpretação da Escritura conforme ao Espírito que a inspirou:

  1. Prestar grande atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura

A Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de que Jesus é o centro e o coração.

“Por coração de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a conhecer o coração de Cristo. Este coração estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência, discernem o modo como as profecias devem ser interpretadas” São Tomás de Aquino

  1. Ler a Escritura na tradição viva de toda a Igreja

A Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja mais do que em instrumentos materiais. Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus e é o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura.

  1. Estar atento à analogia da fé

Por analogia da fé entende-se a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.

 

Os sentidos da Escritura

Segundo a tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e analógico.

O sentido literal: é o expresso pelas palavras da Escritura segundo as regras da reta interpretação. Todos os sentidos se fundamentam no literal.

O sentido espiritual: graças à unidade do desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas também as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais.

O sentido alegórico: podemos atingir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos reconhecendo o seu significado em Cristo.

O sentido moral: os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo.

O sentido anagógico: podemos ver realidades e acontecimentos no seu significado eterno que nos conduz à nossa Pátria.

Um dístico medieval resume o significado dos quatro sentidos:

“A letra ensina-te os factos (passados), a alegoria o que deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves tender” Agostinho de Dacia

  1. O Cânon das Escrituras

A Tradição Apostólica levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados. Esta lista é chamada “cânon” das Escrituras. Comporta para o Antigo Testamento 46 escritos e para o Novo Testamento 27 escritos.

O Antigo Testamento

É uma parte da Sagrada Escritura de que não se pode prescindir. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, porque a Antiga Aliança nunca foi revogada. O Antigo Testamento destinava-se a preparar o advento de Cristo, redentor universal. Dá testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvífico de Deus. Em suma, nele está latente o mistério da nossa salvação.

O Novo Testamento

Estes escritos transmitem-nos a verdade definitiva da Revelação divina. O seu objeto central é Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, os seus atos, ensinamentos, a sua Paixão e glorificação. Os evangelhos são o coração de todas as Escrituras pois são o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador.

Na formação dos evangelhos podemos distinguir três etapas:

  1. A vida e os ensinamentos de Jesus
  2. A Tradição oral
  3. Os evangelhos escritos

“Não há doutrina melhor, mais preciosa e esplêndida do que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senho e Mestre, Cristo, ensinou pelas suas palavras e realizou pelos seus atos. É sobretudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações. Nele encontro tudo o que é necessário à minha pobre alma. Nele descubro sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos” Santa Teresa do Menino Jesus

 

A Unidade do Antigo e do Novo Testamento

A Igreja pôs em evidência a unidade do plano divino nos dois Testamentos. Esta deriva da unidade do plano de Deus e da sua Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo e o Novo dá cumprimento ao Antigo. Os dois esclarecem-se mutuamente e ambos são verdadeira Palavra de Deus.

  1. A Sagrada Escritura na vida da Igreja

É tão grande a força e a virtude da Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual.

Capítulo Terceiro – A resposta do Homem a Deus

Pela sua revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor, faça aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele. A resposta adequada a este convite é a fé.

Pela fé, o Homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o Homem dá assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura chama “obediência da fé” a esta resposta do Homem a Deus revelador.

Artigo 1 Eu Creio

  1. A “obediência da fé”

Obedecer na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. O modelo de obediência que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem Maria.

Abraão – “O Pai de todos os crentes”

Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento de Deus e partiu para uma terra que viria a receber como herança: partiu sem saber para onde ia. Pela fé, viveu como estrangeiro e peregrino na terra prometida. Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, Abraão ofereceu em sacrifício o seu filho único. A fé constitui a garantia dos bens que se esperam e a prova de que existem as coisas que não se veem. O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé.

Maria – “Feliz Aquela que acreditou”

A Virgem Maria realiza de um modo mais perfeito a “obediência da fé”, pois acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel e deu o seu assentimento “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Durante toda a sua vida, a fé de Maria jamais vacilou, nunca deixou de acreditar no cumprimento da Palavra de Deus.

 

  1.  “Eu sei em quem pus a minha fé”

Crer só em Deus

A fé é uma adesão pessoal do homem a Deus, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus, portanto difere da fé numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso ter semelhante fé noutra criatura.

Crer em Jesus Cristo, Filho de Deus

Crer em Deus é crer n’Aquele em Deus enviou, no Seu Filho muito amado. Podemos crer em Jesus Cristo porque Ele próprio é Deus, o Verbo feito carne.

 

Crer no Espírito Santo

Não é possível crer em Jesus Cristo sem ter parte no seu Espírito. É o Espírito Santo quem revela aos homens quem é Jesus. A Igreja não cessa de confessar a sua fé num só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

  1. As características da fé     

A fé é uma graça

A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. Para aderir à fé, são necessários a ajuda da graça divina e os auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento e dá a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade.

A fé é um ato humano

O ato de fé só possível pela graça e pelos auxílios do Espírito Santo, mas não é menos verdade que crer é um ato humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do Homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Na fé, a inteligência e vontade humanas cooperam com a graça divina. “Crer é o ato da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus” São Tomás de Aquino

A fé e a inteligência

Nós acreditamos não pelo facto de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras à luz da razão natural, mas sim por causa da autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganar-nos. Contudo, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da sua Revelação. Assim, os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, são sinais certos da Revelação adaptados à inteligência de todos, mostrando que a fé não é um movimento cego do espírito.

A fé é certa porque se funda na própria palavra de Deus. As verdades reveladas podem parecer obscuras à razão mas a certeza dada pela luz divina é maior do que a dada pela luz da razão natural.

A fé procura compreender: é inerente à fé o desejo do crente de conhecer melhor Aquele em quem acreditou e de compreender melhor o que Ele revelou. Um conhecimento mais profundo exigirá uma fé maior e cada vez mais abrasada em amor. A graça da fé abre os olhos do coração. “Eu creio para compreender e compreendo para crer melhor” Santo Agostinho

Fé e ciência. Embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver desacordo entre ambas: o mesmo Deus que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. Aquele que se esforça, com perseverança e humildade, por penetrar no segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não tenham consciência disso.

A liberdade da fé

Para ser humana, a resposta da fé dada pelo Homem deve ser voluntária, portanto ninguém deve ser constrangido a abraçar a fé contra a vontade. O ato de fé é voluntário por sua própria natureza. Deus convida o Homem à conversão, mas de modo algum constrangeu alguém.

A necessidade da fé

Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo, porque sem a fé não é possível agradar a Deus e partilhar a condição de filhos seus.

 

 

A perseverança na fé

A fé é um dom gratuito de Deus ao Homem, mas podemos perder este dom. Para viver, crescer e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos de pedir ao Senhor que no-la aumente; deve ser sustentada pela esperança e permanecer enraizada na fé da Igreja.

A fé – vida eterna iniciada

A fé é já o princípio da vida eterna. “Enquanto, desde já, comtemplamos os benefícios da fé, como reflexo num espelho, é como se possuíssemos já as maravilhas que a nossa fé nos garante havermos de gozar um dia” São Basílio Magno

Artigo 2 Nós cremos

A fé é um ato pessoal, uma resposta livre à proposta de Deus que Se revela. Mas não é um ato isolado, ninguém pode acreditar sozinho, ninguém se deu a fé de si mesmo. Foi de outrem que o crente recebeu a fé, por isso a outrem a deve transmitir. O nosso amor a Jesus e aos homens impele-nos a falar da nossa fé. Não posso crer sem ser amparado pela fé dos outros e pela minha fé contribuo para amparar os outros.

“Eu creio” é a fé da Igreja professada pessoalmente por cada crente. “Nós cremos” é a fé da Igreja confessada pela assembleia litúrgica dos crentes.

  1. “Olhai, Senhor, para a fé da vossa Igreja”

Antes de mais é a Igreja que crê e que assim suporta, nutre e sustenta a minha fé. É primeiro a Igreja que confessa o Senhor. Com ela e nela, nós somos atraídos e levados a confessar: “Eu creio”, “Nós cremos”.

A salvação vem só de Deus, mas é através da Igreja que recebemos a vida de fé, a Igreja é nossa Mãe.

  1. A linguagem da fé

Não acreditamos em fórmulas, mas sim nas realidades que as fórmulas exprimem e que a fé nos permite “tocar”. O ato de fé do crente não se detém no enunciado, mas na realidade enunciada. Assim, é através das fórmulas da fé (que nos permitem exprimir e transmitir a fé) que nos aproximamos dessas realidades.

A nossa Mãe Igreja ensina-nos a linguagem da fé para nos introduzir na inteligência e na vida da fé.

  1. Uma só fé

A Igreja não cessa de confessar a sua fé única, recebida de um só Senhor, transmitida por um só Batismo, enraizada na convicção de que todos os homens têm apenas um só Deus e Pai.