Ano da Fé 2012-2013



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3ª Meta

 

Segunda Secção – A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

Os símbolos da fé

Quem diz Credo afirma: dou a minha adesão àquilo em nós cremos. A comunhão n fé tem necessidade de uma linguagem comum, normativa para todos e a todos unindo na mesma confissão da fé. Desde a origem a Igreja exprimiu e transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e normativas para todos. Também bem cedo quis recolher o essencial da fé em resumos orgânicos e articulados. A estas sínteses de fé chamamos profissões de fé porque resumem a fé professada pelos cristãos.

O símbolo divide-se em três partes: na primeira trata da Primeira Pessoa divina e da obra admirável da criação; na segunda, da Segunda Pessoa divina e do mistério da Redenção dos homens; na terceira, da Terceira Pessoa divina, fonte e princípio da nossa santificação.

As profissões ou símbolos de fé ajudam a abraçar e a aprofundar a fé de sempre, através dos diversos resumos que dela se fizeram. Entre todos os símbolos da fé, há dois que têm um lugar especial na vida da Igreja: o Símbolo dos Apóstolos e o Símbolo dito de Niceia – Constantinopla.

Este Símbolo é o selo espiritual (…), é a meditação do nosso coração e a sentinela sempre presente; é, sem dúvida, o tesouro da nossa alma (Santo Agostinho)

SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS

CREDO DE NICEIA–CONSTANTINOPLA

Creio em Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do Céu e da Terra;

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, 
Criador do Céu e da Terra, 
de todas as coisas visíveis e invisíveis.

e em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor,

Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, 
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz, 
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; 
gerado, não criado, consubstancial ao Pai. 
Por Ele todas as coisas foram feitas. 
E por nós, homens, e para nossa salvação 
desceu dos Céus.

que foi concebido pelo poder 
do Espírito Santo; 
nasceu da Virgem Maria;

E encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria, 
e Se fez homem.

padeceu sob Pôncio Pilatos, 
foi crucificado, morto e sepultado; 
desceu à mansão dos mortos; 
ressuscitou ao terceiro dia; 
subiu aos Céus; 
está sentado à direita de Deus Pai 
todo-poderoso, de onde há-de vir a julgar 
os vivos e os mortos.

Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; 
padeceu e foi sepultado.

Ressuscitou ao terceiro dia, 
conforme as Escrituras; 
e subiu aos Céus, onde está sentado 
à direita do Pai. 
De novo há-de vir em sua glória, 
para julgar os vivos e os mortos; 
e o seu Reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo;

Creio no Espírito Santo, 
Senhor que dá a vida, 
e procede do Pai e do Filho; 
e com o Pai e o Filho é adorado 
e glorificado: 
Ele que falou pelos profetas.

na santa Igreja Católica; 
na comunhão dos Santos;

Creio na Igreja una, santa, 
católica e apostólica.  

na remissão dos pecados; 
na ressurreição da carne;
na vida eterna. 
Amen

Professo um só Batismo 
para remissão dos pecados. 
E espero a ressurreição dos mortos, 
e a vida do mundo que há-de vir. 
Amen.

 

 

Capítulo Primeiro – Creio em Deus Pai

A nossa profissão de fé começa por Deus, porque é o Princípio e o Último, o Princípio e o Fim de tudo. O Credo começa por Deus Pai, porque o Pai é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade.

Artigo 1 “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso Criador do Céu e da Terra”

Parágrafo 1 – Creio em Deus

Esta é a primeira afirmação da profissão de fé e também a mais fundamental, pois os artigos do Credo dependem todos do primeiro. Todo o Símbolo fala de Deus; os outros artigos fazem-nos conhecer melhor Deus, mas antes de mais nada, é preciso crer em Deus.

I.              Creio em um só Deus

Deus é único, não há senão um só Deus. A fé cristã crê e professa que só há um Deus por substância e natureza.

A Israel Deus revelou-Se como sendo único “Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5). O próprio Jesus confirma que Deus é o único Senhor e que é necessário amá-Lo.

“Nós acreditamos com firmeza e afirmamos simplesmente que há um só Deus verdadeiro, imenso e imutável, incompreensível, todo-poderoso e inefável, Pai e Filho e Espírito Santo: três pessoas, mas uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples” (IV Concílio de Latrão)

II.            Deus revela o seu nome

Deus revelou-Se ao seu povo Israel e dá a conhecer o seu nome, que exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Dizer o nome é dar-Se a conhecer aos outros, entregar-Se a Si próprio tornando-se acessível, capaz de ser conhecido mais intimamente e de ser invocado pessoalmente.

Eu sou Aquele que sou

Ao revelar o seu nome misterioso YHWH “Eu sou Aquele que É”, Deus diz quem é e com que nome deve ser chamado; este nome é misterioso, tal como Deus é mistério. É assim que Deus exprime melhor o que Ele é; Ele é o Deus escondido, o seu nome é inefável e é o Deus que se faz próximo dos homens.

Ao revelar o seu nome, revela também a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida para o passado e futuro. Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o Homem descobre a sua pequenez.

Deus de ternura e de piedade

Depois do pecado de Israel, que se afastou para adorar o bezerro de ouro, Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio de um povo infiel, manifestando todo o Seu amor. O nome divino “Eu sou” ou “Ele é” exprime a fidelidade de Deus que, apesar da infidelidade do pecado dos homens, conserva a sua benevolência em favor de milhares de pessoas. Deus revela que é rico em misericórdia ao ponto de entregar o seu próprio Filho que deu a vida para nos libertar do pecado.

Só Deus É

Deus é único, fora d’Ele não há deuses, Ele transcende o mundo e a história, foi quem criou o céu e a terra. Ele é “Aquele que é”, desde sempre e para sempre e, assim, permanece fiel a Si mesmo e às Suas promessas. Deus é a plenitude do Ser e de toda a perfeição, sem princípio nem fim; enquanto todas as criaturas d’Ele receberam todo o ser e o ter, só Ele é o seu próprio ser e é por Si mesmo tudo o que Ele é.

 

III.           Deus, “Aquele que é”, é verdade e amor

Em todas as suas obras, Deus mostra a sua benevolência, a sua bondade, a sua graça, o seu amor; e também a sua credibilidade, a sua constância, a sua fidelidade, a sua verdade. Ele é a verdade, porque Deus é luz e n’Ele não há trevas nenhumas (1 Jo 1,5).

Deus é verdade

Deus é a própria verdade, por isso é que as promessas de Deus se cumprem sempre, não pode enganar. Deste modo podemo-nos entregar com toda a confiança e em todas as coisas à verdade e fidelidade da sua palavra. A verdade de Deus é a sua sabedoria, que comanda toda a ordem da criação e do governo do mundo; só Deus pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas na sua relação com Ele. Todo o ensinamento que vem de Deus é doutrina de verdade; quando enviou o seu Filho ao mundo foi para dar testemunho da verdade (Jo 18)

Deus é Amor

No decorrer da história, Israel descobriu que Deus só tinha uma razão para Se lhe ter revelado e o ter escolhido de entre todos os povos: o seu amor gratuito. O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor de um pai para com o seu filho. Deus ama o seu povo mais do que um esposo ama a sua bem-amada; este amor vencerá as piores infidelidades e chegará ao mais precioso de todos os dons.

O amor de Deus é eterno. Deus é amor (1 Jo 4,8,16). Ao enviar o seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo: Ele próprio é permuta de amor: Pai, Filho e Espírito Santo, e destinou-nos a tomar parte dessa comunhão.

IV.          Consequências da fé no Deus único

Crer em Deus, o Único, e amá-Lo com todo o nosso ser, tem consequências imensas para toda a nossa vida:

®     É conhecer a grandeza e majestade de Deus;

®     É viver em ação de graças;

®     É conhecer a unidade e verdadeira dignidade de todos os homens;

®     É fazer bom uso das coisas criadas;

®     É ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias.

“Nada te perturbe,

Nada te espante, tudo passa

Deus não muda, a paciência tudo alcança

Quem a Deus tem nada lhe falta

Só Deus basta”

Santa Teresa de Jesus

 

 

 

 

 

Parágrafo 2 – O Pai

I.              Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo      

Os cristãos são batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”; antes disto respondem “Creio” à pergunta com que são interpelados a confessar a sua fé no Pai. São batizados “em nome” do Pai e do Filho e do Espírito Santo e não “nos nomes” deles, pois só há um Deus – o Pai omnipotente, o Seu Filho Unigénito e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã, é o mistério de Deus em si mesmo. A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto. Constitui um mistério inacessível à razão sozinha.

II.            A revelação de Deus como Trindade

O Pai revelado pelo Filho

Em Israel, Deus é chamado Pai enquanto criador do mundo; mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu filho primogénito. Ao designar Deus como Pai, a fé indica que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente e, ao mesmo tempo, é a bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos.

Jesus revelou que Deus é Pai num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador. É Pai eternamente em relação ao Filho único e é Filho em relação ao Pai: Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11, 27)

Por esta razão os Apóstolos confessam que Jesus é o Verbo, a imagem do Deus invisível. A Igreja confessa que o Filho é consubstancial ao Pai, quer dizer, um só Deus com Ele.

O Pai e o Filho revelados pelo Espírito

Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um outro Paráclito (defensor), o Espírito Santo. Agindo desde a criação e tendo falado pelos profetas, o Espírito Santo estará agora junto dos discípulos para os ensinar e guiar para a verdade total. Assim o Espírito Santo é revelado como outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai. A Igreja reconhece, assim, o Pai como a fonte e a origem de toda a Divindade, mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada da do Filho: O Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza… Contudo, não dizemos que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho XI Concílio de Toledo.

A tradição latina do Credo confessa que o Espírito procede do Pai e do Filho, portanto recebe a sua essência e o seu ser ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de um e do outro como de um só princípio e por uma só espiração.

III.           A Santíssima Trindade na doutrina da fé

       A formação do dogma trinitário

       A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve, desde a origem, na raiz da fé viva da Igreja, principalmente por meio do Batismo. Encontra a sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Para formular o dogma da Trindade, a Igreja teve de elaborar uma terminologia própria. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito a estes termos, chamados a exprimir um mistério inefável, transcendendo infinitamente tudo quanto podemos conceber a nível humano.

      

 

       O dogma da Santíssima Trindade

®     A Trindade é una; nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: a Trindade consubstancial. Cada uma delas é Deus por inteiro.

®     As pessoas divinas são realmente distintas entre Si; Deus é um só, mas não solitário. Pai, Filho, Espírito Santo, não são meros nomes que designam modalidades do ser divino, porque são realmente distintos entre Si pelas suas relações de origem: O Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito Santo procede.

®     As pessoas divinas são relativas umas às outras;

 

IV.          As obras divinas e as missões trinitárias

       Deus é a eterna bem – aventurança, vida imortal, luz sem ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Este amor manifesta-se na obra da criação, em toda a história da salvação depois da queda e nas missões do Filho e do Espírito Santo, continuadas pela missão da Igreja. Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas, a Trindade não tem senão uma e a mesma operação. No entanto, cada pessoa divina realiza a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. Por isso toda a vida cristã é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem de modo algum as separar. O fim último de toda a economia divina é o acesso das criaturas à unidade perfeita da bem – aventurada Trindade.

       Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacífica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso mistério! Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que nunca aí eu Vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa ação criadora. Santo Agostinho